Dvaitādvaita e Dvaitādvaitamukte: A Jornada, a Chegada e a Dissolução de Ambas.
- INatha

- 10 de set.
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No âmago da tradição Siddha Siddhānta Tantra (सिद्धसिद्धान्ततन्त्र), a experiência espiritual do yoga é revelada como um paradoxo vivo, expresso nas palavras dvaitādvaita (द्वैताद्वैत) e dvaitādvaitamukte (द्वैताद्वैतमुक्ते).
Dvaitādvaita evoca a dança da consciência entre dualidade (dvaita, द्वैत) e não-dualidade (advaita, अद्वैत), mostrando que o caminho espiritual do yoga se move entre esforço progressivo e percepção imediata.
É a jornada, o percurso estruturado em etapas, em que o praticante aprende a transcender o denso pelo sutil, reconhecendo o Uno em cada ponto do trajeto.
Dvaitādvaitamukte, por sua vez, revela a culminância dessa experiência: a liberdade plena da dualidade e da não-dualidade. Aqui, o caminho e a meta se dissolvem, a distinção entre progresso e presença desaparece, e o praticante habita a realidade sem polaridades, sem mediações, em pura experiência do Ser.
Assim, desde o início até o ápice, o Siddha Siddhānta Tantra apresenta um horizonte contínuo: o movimento do relativo ao absoluto e a liberação de ambos, convidando a consciência a perceber que o caminho e a chegada são simultaneamente distintos e inseparáveis.
O Caminho como Progressão
Sob a perspectiva do dvaita, o Siddha Siddhānta descreve o corpo como um microcosmo, um universo condensado em carne, energia e sopro. Neste mapa, os elementos se organizam em camadas, os centros sutis (cakra, चक्र) desenham degraus de ascensão, e o praticante é convidado a realizar uma travessia do denso ao sutil.
Cada prática, cada disciplina, cada conquista no domínio do prāṇa (प्राण) e do bindu (बिन्दु) é vista como condição necessária para que o despertar aconteça de forma estável.
O caminho é, portanto, krama (क्रम) — uma sequência, uma cadência, uma pedagogia de amadurecimento.
A Presença como Imediatez
Mas o mesmo Siddha Siddhānta lembra que, no fundo, o sutil nunca deixou de estar presente. O que se busca já pulsa em cada respiração, vibra em cada som, repousa em cada instante.
Aqui emerge o sabor do advaita: a consciência não é algo a ser conquistado no futuro, mas algo que permeia o agora. Assim, cada prática não é apenas um meio para chegar a um fim distante, mas também uma porta instantânea para perceber o Uno que sempre esteve velado.
Dvaitādvaita como Arte da Integração
A beleza da expressão dvaitādvaita é justamente unir essas duas leituras sem reduzi-las. O caminho existe, mas não é absoluto. A meta está além, mas também está aqui. A jornada se faz necessária para a mente e para o corpo, mas o coração já repousa no destino desde o primeiro passo.
Não é uma contradição: é um modo de viver a prática como paradoxo criativo, uma dança entre conquista e reconhecimento, entre esforço e graça.
O Krama Jalām do Método INatha
O Krama Jalām (क्रमजालं), no contexto do Método INatha, encarna essa dupla via.
Por um lado, organiza-se como sistema de progressão: linear, estruturado, com etapas claras que guiam o praticante em sua evolução.
Por outro, abre-se como ecossistema de experiência: uma rede em que cada ponto contém o todo, e cada prática é já a revelação do que se buscava.
Assim, o Krama Jalām se torna um tecido vivo de dvaitādvaita. Ele não nega o esforço, mas também não aprisiona o praticante na ideia de futuro. Oferece disciplina sem excluir a liberdade, abre vias sem fechar o horizonte.
Dvaitādvaitamukte: Além da Dualidade e da Não-Dualidade
Jalandhar Nāth, em seu Siddhāntavākya (सिद्धान्तवाक्य), apresenta uma expressão que sintetiza a culminância de toda a trajetória siddha:
Dvaitādvaitamukte (द्वैताद्वैतमुक्ते) — literalmente, “liberado da dualidade e da não-dualidade”.
Enquanto dvaitādvaita nos ensina a caminhar entre o relativo e o absoluto, entre o esforço progressivo e a percepção imediata, o estado de Dvaitādvaitamukte revela que até essa mediação também pode ser transcendida.
Não há mais polaridades a reconciliar, nem caminhos a percorrer. A consciência desperta se dissolve em si mesma, não como meta a ser alcançada, mas como experiência direta e incondicionada do Ser.
No contexto do Krama Jalām do Método INatha, este estado surge como horizonte silencioso: todas as práticas, todas as etapas lineares e todos os pontos de absorção convergem para uma percepção de liberdade plena, onde o esforço e a presença se tornam indistinguíveis. Cada ponto do caminho revela, simultaneamente, o próprio caminho e a sua dissolução.
Conclusão
O Siddha Siddhānta Tantra nos convida a compreender que yoga não é apenas uma linha reta nem apenas um ponto imóvel. É ambos ao mesmo tempo e nenhum deles. É caminho, chegada e dissolução de ambos. É dvaitādvaita e sobretudo, dvaitādvaitamukte.
Bibliografia Indicativa
Jalandhar Nāth. Siddhāntavākya (सिद्धान्तवाक्य). Ed. tradicional Nāth, século XI.
Gorakṣanātha. Siddha Siddhānta Paddhati (सिद्धसिद्धान्तपद्धति). Ed. crítica em IAST, estudos comparativos sobre krama e prāṇayāma.
White, David Gordon. The Alchemical Body: Siddha Traditions in Medieval India. University of Chicago Press, 1996.
Mahadevan, T. M. P. Studies in Nāth Siddha Philosophy. Chennai: University of Madras, 1980.
Rastogi, R. Nāth Siddha Tradition: Philosophy and Praxis. Delhi: Motilal Banarsidass, 2005.


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