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(11) Maha Śivarātri, Śivarātri Mensais e o Eixo Ritual do Ekādaśa Namaskrama no Método INatha.

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    INatha
  • 20 de ago.
  • 4 min de leitura

1. Introdução

O termo Śivarātri (शिवरात्रि, śivarātri) significa literalmente “noite de Shiva” (śiva = auspicioso, divino; rātri = noite). Entre as tradições do Sanatana Dharma, a Maha Śivarātri (महाशिवरात्रि, mahāśivarātri) representa a noite suprema de Shiva, enquanto as Śivarātri mensais (masa śivarātri, मासशिवरात्रि) ocorrem a cada quinzena lunar, marcando a vigília e prática devocional em consonância com o décimo quarto ou décimo quinto tithi de Krishna Paksha, dependendo da tradição regional.


No Método INatha, ambas as formas de Śivarātri são integradas ao Ekādaśa Namaskrama (एकादश नमस्क्रम, ekādaśa namaskrama) como a décima primeira etapa do ciclo, funcionando como eixo ritual de dissolução, integração e alinhamento com ṛta, a ordem cósmica.


2. Maha Śivarātri na Tradição Védica


2.1 Referências Textuais

A Maha Śivarātri é mencionada em diversos Purāṇas e Agamas. Textos como o Skanda Purāṇa (स्कन्दपुराण, Skanda Purāṇa) e o Linga Purāṇa (लिंगपुराण, Linga Purāṇa) descrevem esta noite como um tempo de:


  • Vigília e meditação contínua (jāgaraṇa).

  • Adoração de Shiva com pūjā, cânticos (stotra) e oferendas (archana).

  • Alinhamento da consciência individual com o ritmo do cosmos, preparando o devoto para experiências de laya (dissolução do ego) e união com o princípio divino.


2.2 Significado Filosófico

No contexto védico, Maha Śivarātri simboliza:


  1. A dissolução da ignorância e do ego (avidyā).

  2. A integração dos opostos — luz e escuridão, atividade e repouso, consciência e matéria.

  3. Alinhamento com ṛta, harmonizando tempo, energia e intenção.


Assim, a vigília durante a noite de Maha Śivarātri não é meramente devocional: constitui uma prática de consciência e disciplina, conectando corpo, mente e espírito à ordem universal.


3. Śivarātri Mensais: Função e Prática


3.1 Contexto Astronômico e Tradicional

As Śivarātri mensais ocorrem tipicamente uma noite antes da Lua Nova ou na quinzena escura, dependendo da tradição local. No Método INatha, a prática segue o ritmo lunar, garantindo:


  • Conexão com a fase da Lua, alinhando introspecção, meditação e assimilação de energia.

  • Ritmo pedagógico, marcando o encerramento de cada mês letivo e o período de reflexão e integração das práticas.


3.2 Função Filosófica e Energética

Cada Śivarātri mensal desempenha funções análogas às da Maha Śivarātri, em escala reduzida:


  • Transcendência gradual do ego, preparando o praticante para experiências de laya.

  • Integração das práticas de shuddhi realizadas durante o mês — Saudações à Lua, Saudações ao Sol e Ekādaśī.

  • Reconexão com Shiva como princípio central do aprendizado e da transformação interior.


4. Maha Śivarātri e Śivarātri Mensais na Tradição Tântrica

No tantra, a Śivarātri é interpretada como momento de intensificação da prática de upāsanā e manipulação de energia sutil:


  • Maha Śivarātri: oportunidade para práticas avançadas de laya yoga, controle de prāṇa e absorção meditativa profunda.

  • Śivarātri mensais: reforço do fluxo energético, alinhamento dos chakras e preparação para experiências mais profundas de consciência durante a vigília mensal.


Textos tântricos como o Rudra Yamala Tantra (रुद्र यमल तंत्र) e o Kularnava Tantra (कुलर्णव तंत्र) enfatizam a concentração no bindu, no sahasrāra e nos canais de energia, destacando a importância do jejum, da meditação e da vigília noturna para ativar o eixo energético central do corpo.


5. Relação com o Ekādaśa Namaskrama no Método INatha


5.1 Eixo Ritual do Ciclo

Dentro do Ekādaśa Namaskrama, a Śivarātri mensal ocupa a décima primeira posição, atuando como:


  1. Culminação das práticas lunares e solares (Chandra e Sūrya Namaskār).

  2. Integração da purificação dos dois Ekādaśī (Shukla e Krishna Paksha).

  3. Momento de transcendência do ego e entrega à ordem cósmica (ṛta).


5.2 Função Pedagógica

A Śivarātri mensal marca o encerramento de cada mês letivo no Método INatha, estabelecendo um ritmo pedagógico anual:


  • Consolida disciplina e práticas aprendidas ao longo do mês.

  • Prepara o corpo e a mente para o início do próximo ciclo lunar, iniciando com a Lua Nova pós-Śivarātri.

  • Proporciona experiência direta de laya, alinhando ação, energia e consciência com o eixo de Shiva.


5.3 Interação com Ciclos Lunares e Solares


  • Lua: orienta introspecção, assimilação e silêncio interior.

  • Sol: fortalece disciplina, ação consciente e energia vital.

  • Ekādaśī: purificação e disciplina intermediária, preparando o terreno para a entrega total na Śivarātri.


A Śivarātri mensal, portanto, integra o ritmo solar, lunar e tithi em um eixo ritual completo, criando um ritmo pedagógico, espiritual e energético anual dentro do Método INatha.


6. Significado Filosófico e Cósmico

A relação entre Maha Śivarātri, Śivarātri mensais e Ekādaśa Namaskrama reflete:


  1. Alinhamento com ṛta, a ordem cósmica que regula ciclos lunares, solares e da consciência.

  2. Integração progressiva da prática espiritual, combinando jejum, saudação, meditação e dissolução.

  3. Transformação interior, com Shiva como eixo central, representando a consciência suprema e a possibilidade de laya e união com o cosmos.


7. Conclusão

O estudo de Maha Śivarātri e Śivarātri mensais evidencia seu papel central na tradição védica e tântrica, atuando como:


  • Momentos de purificação, vigília e integração energética.

  • Referência para disciplinas físicas, mentais e espirituais.

  • Eixo ritual do Ekādaśa Namaskrama, organizando o ciclo de 11 práticas do Método INatha.


Assim, a Śivarātri, tanto mensal quanto anual, não é apenas um dia de culto; constitui o ponto culminante de assimilação, dissolução e entrega à ordem cósmica, integrando corpo, mente e consciência no aprendizado contínuo e na prática de Shiva.


Bibliografia Selecionada


  1. Skanda Purāṇa (स्कन्दपुराण), Varanasi: Sampurnananda Sanskrit University, 1996.

  2. Linga Purāṇa (लिंगपुराण), Varanasi: Sampurnananda Sanskrit University, 1998.

  3. Rudra Yamala Tantra (रुद्र यमल तंत्र), Translation: Satyananda Saraswati, Yoga Publications Trust, 2007.

  4. Kularnava Tantra (कुलर्णव तंत्र), Translation: Satyananda Saraswati, Yoga Publications Trust, 2007.

  5. Gavin Flood, The Tantric Body: The Secret Tradition of Hindu Religion, London: I.B. Tauris, 2006.

  6. David Gordon White, Kiss of the Yogini: “Tantric Sex” in its South Asian Contexts, Chicago University Press, 2003.

  7. Subramuniya Swami, Hindu Culture and the Śivarātri Observances, Madras: Sri Ramakrishna Mission, 1985.

  8. Padma Purāṇa (पद्मपुराण), Canto 6 e 16, Vishnu Purana Press, 1998.

 
 
 

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