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Trija Paddhati (त्रिज पद्धति): O Nome da Arquitetura Tríplice do Método INatha.

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    INatha
  • 20 de ago.
  • 4 min de leitura

1. O vocábulo Trija (त्रिज)

O termo Trija é uma formação regular do sânscrito, ainda que pouco atestada como lemma autônomo nos dicionários canônicos. Ele resulta da combinação de:


  • tri (त्रि) – o numeral “três”, raiz de inúmeros compostos estruturantes do pensamento védico (triguṇa – os três modos da natureza, trivarga – os três objetivos da vida, trilocana – o de “três olhos”, epíteto de Śiva).

  • -ja (ज) – sufixo derivado da raiz √jan (जन्), “nascer, gerar, produzir”. Esse sufixo é altamente produtivo e presente em termos como dvija (द्विज, “duas-vezes-nascido”, título dos brâhmaṇas e também nome do pássaro), giri-ja (गिरिज, “nascida da montanha”, Pārvatī), agni-ja (“nascido do fogo”), etc.


Morfologicamente, portanto, trija (त्रिज) significa “nascido de três”, “triplo-nascido”, “proveniente de três fontes”. Trata-se de uma palavra legítima e transparente, mesmo que rara em uso textual clássico.


No horizonte simbólico da tradição indiana, o “nascido de três” se integra naturalmente à constelação de tríades que estruturam tanto o cosmos védico (terra–atmosfera–céu; fogo–vento–sol; as três vedas; as três medidas do tempo) quanto o cosmos tântrico (icchā–jñāna–kriyā; para–parā–aparā; três energias da kuṇḍalinī). Assim, trija não é apenas um termo técnico, mas uma imagem de síntese: aquilo que floresce a partir da convergência de três forças.


2. O campo semântico e histórico de Paddhati (पद्धति)

A palavra paddhati (पद्धति) tem uma longa trajetória de uso e ressonância na literatura sânscrita. Deriva de path (पथ, “caminho, via”) + sufixo que intensifica a ideia de sequência ou ordenamento (-dhati).

Seu campo de sentido abrange:


  1. Caminho, via, direção – no sentido geral de “trajeto”, “linha de orientação”.

  2. Sequência ou arranjo – especialmente quando indica uma ordem fixa, como num ritual ou prática espiritual.

  3. Manual ou guia prático – nos contextos religiosos, paddhati tornou-se termo técnico para designar compêndios rituais ou didáticos que condensam e organizam a tradição em forma sistemática.

    • Ex.: Pūjā-paddhati (manual de culto), Saṃskāra-paddhati (manual dos ritos de passagem), Mantra-paddhati.


Na tradição śaiva e śākta tântrica, por exemplo, há numerosos paddhatis que sintetizam instruções litúrgicas e práticas meditativas. Em alguns casos, são textos tardios, produzidos já como manuais de aplicação prática em contraste com os tantras canônicos, que exigiam exegese oral do mestre.


Na modernidade, paddhati tornou-se quase sinônimo de “método sistematizado”, seja na esfera ritual, seja na pedagógica. Ao usar o termo, inscreve-se qualquer proposta metodológica numa genealogia de sistematização tradicional, isto é, no esforço de ordenar e transmitir conhecimento prático.


3. O composto Trija Paddhati (त्रिज पद्धति)

Ao unir os dois termos, temos:


  • Trija (त्रिज) = “nascido de três”, “proveniente de três fontes”, “triplo”.

  • Paddhati (पद्धति) = “caminho, método, manual, via ordenada”.


Portanto, Trija Paddhati pode ser traduzido como:


  • “Método tríplice”

  • “Manual de tripla origem”

  • “Caminho nascido de três eixos”


Essa expressão, embora não consagrada como título clássico, é plenamente coerente com a morfologia sânscrita e com a lógica da tradição.


4. Tríades no contexto védico e tântrico

A pertinência do termo se fortalece ao observar que a tríplice estrutura permeia todo o pensamento indiano:


  • Nos Vedas: o cosmos é tripartido em bhūr (terra), bhuvaḥ (atmosfera), svaḥ (céu); o fogo se apresenta em três formas (terrestre, atmosférico, celeste); a palavra é tripla (gāyatrī, triṣṭubh, jagatī).

  • No Bramanismo ritual: os sacrifícios requerem três fogos (gārhapatya, āhavanīya, dakṣiṇāgni).

  • No Sāṃkhya: a natureza (prakṛti) é regida pelos três guṇas (sattva, rajas, tamas).

  • No Śivaismo e no Śaktismo: a energia divina se manifesta em tríades (icchā–jñāna–kriyā; para–parā–aparā; três śaktis, três kuṇḍalinīs).

  • Na gramática e na filosofia da linguagem: a palavra se organiza em triplicidades (sons, sentidos, níveis de expressão).


Assim, a ideia de um método triplo não apenas ecoa um recurso didático, mas ressona com a ontologia e cosmologia tradicionais, que sempre viram na tríade uma cifra da totalidade dinâmica.


5. Nota terminológica

É importante observar que existem outros compostos possíveis para a ideia de “tríplice método”:


  • Trividha Paddhati (त्रिविध पद्धति) – “método de três espécies/tipos”.

  • Traya Paddhati (त्रय पद्धति) – “método tríplice”, usando traya (“três” como substantivo coletivo).


No entanto, Trija Paddhati tem uma força particular: ele não apenas indica o “três” como número, mas sugere algo “nascido de três”. Essa nuance é crucial, pois aponta para uma síntese criativa entre três fontes de origem distintas, e não apenas uma enumeração.


Conclusão

O termo Trija Paddhati (त्रिज पद्धति), mesmo que não atestado amplamente como expressão clássica, é uma cunhagem legítima, coerente e fecunda dentro do horizonte sânscrito. Ele preserva a gramática da tradição, conecta-se à onipresença das tríades védicas e tântricas, e oferece um campo semântico capaz de expressar um método contemporâneo que nasce da convergência de três forças distintas.

Ao adotar esse termo para o Método INatha, inscreve-se a proposta num diálogo criativo com a tradição: não apenas enumerar três eixos, mas reconhecer que a síntese viva do método é “triplamente nascida”.


Bibliografia:


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  • White, David Gordon. The Alchemical Body: Siddha Traditions in Medieval India. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

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