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Trayakrama (त्रयक्रम): Ensaio de justificação e contextualização para o tripé metodológico do Método INatha.

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    INatha
  • 20 de ago.
  • 6 min de leitura

Resumo 

Este ensaio propõe e justifica a nomeação do tripé metodológico do Método INatha como Trayakrama (त्रयक्रम). Parte-se de uma análise etimológica e gramatical, passa por precedentes históricos e disciplinares (tantras da tradição do krama e práticas pedagógicas do vinyāsa-krama), e conclui com razões terminológicas, pedagógicas e simbólicas para a adoção do termo. Em anexo, uma bibliografia ampla oferece suporte primário e secundário para quem desejar aprofundar.


1. Problema e proposta

A proposta de um sistema metodológico composto por três eixos complementares — Ekādaśa Pūrvakrama, Ekādaśa Namaskrama e Dhyānakrama — que, juntos, sustentam a formação e a prática do yoga no âmbito do Método INatha. A questão terminológica é: qual o nome mais adequado, em registro técnico-acadêmico e em sânscrito, para denominar esta tríade como um todo? Recomenda-se aqui Trayakrama (त्रयक्रम, trayakrama) e este ensaio explica por quê.


2. Breve nota etimológica e gramatical (por que traya- + krama)


  • krama (क्रम, krama): termo amplamente atestado no léxico sânscrito com sentidos nucleares de “passo, ordem, sequência, progressão, disposição” — isto é, denota tanto movimento em etapas quanto um princípio organizador gradual. A entrada clássica do Monier-Williams documenta precisamente essas acepções. sanskrit-lexicon.uni-koeln.de

  • traya (त्रय, traya) / tri (त्रि, tri): ambos derivam do numeral “três”, mas apresentam distinções morfológicas: tri- é o numeral simples; traya- é a forma que frequentemente aparece em compostos e em usos que denotam “a tríade”, “o conjunto dos três” (p.ex. guṇa-traya, loka-traya). Essas nuances morfológicas e textuais são registradas nos dicionários e na tradição gramatical. sanskrit-lexicon.uni-koeln.desanskritdictionary.com


Da combinação surge trayakrama (त्रयक्रम, trayakrama) — literalmente “a ordem (krama) dos três / a tríade de progressões” — uma composição regular e plenamente legítima em sânscrito.


3. Por que traya- em vez de tri- (ou trikram(a))?

Há duas opções fáceis: trikrama (त्रिक्रम्, trikrama) e trayakrama (त्रयक्रम, trayakrama). A escolha por traya- sustenta-se em três argumentos:


  1. Nuance sintática e semântica: traya- carrega, em composições, a ideia de “o conjunto triplo” ou “a tríade conceitual”, enquanto tri- é mais numeral e pode soar mais “counting” do que conceitual. Para um conceito institucional — o sistema ou paradigma composto por três ordens — traya- comunica essa totalidade em vez de apenas o número. sanskrit-lexicon.uni-koeln.de


  2. Ressonância com o repertório teórico (Trika/Traya): em tradições como a do Trika (escola tríade da Shaivismo da Caxemira) e no discurso tântrico, a ideia de tríade (traya / trika) é carregada de significado metafísico e metodológico. Adotar traya- reforça essa afinidade epistemológica — útil quando se deseja situar academicamente o método em diálogo com genealogias tântricas e tríadológicas. (Ver sínteses sobre Trika/Trika-Shaivism e seus triádicos.) iep.utm.eduAmazon


  3. Registro acadêmico e sonoridade: trayakrama produz um termo mais formal e “erudito” (próprio de textos clássicos e acadêmicos) do que trikrama, que soa direto e funcional. Para publicações, títulos e parágrafos conceituais onde se quer enfatizar a construção teórica (a “tríade como princípio”), trayakrama é preferível.


Em suma: trayakrama é gramaticalmente legítimo, semanticamente preciso e estilisticamente adequado ao registro acadêmico que você solicitou. sanskrit-lexicon.uni-koeln.de+1


4. Precedentes históricos e disciplinares que legitimam a escolha


4.1. Krama como categoria tântrica e soteriológica

A noção de krama não é apenas léxica: existe uma corrente textual e prática chamada “escola do Krama” ou Krama-tantricism (particularmente no contexto da Shaivismo da Caxemira), que desenvolveu sistemas ordenados de práticas, hierarquias devocionais e progressões esotéricas chamadas também de krama. Navjivan Rastogi e estudos sobre a tradição documentam esse uso técnico e a existência de “sistemas krama” com subtipos e ordenações próprias. Essa literatura mostra que krama funciona como categoria metodológica na tradição tântrica. Motilal Banarsidassia600204.us.archive.org


4.2. O “tríptico” como forma privilegiada em Trika/Kaula

A escola Trika (ou sistema trika do Shaivismo da Caxemira) opera com várias tríades (por exemplo, icchā-jñāna-kriyā — vontade, conhecimento e ação) e outras triplicidades ontológicas e soteriológicas — um arranjo conceitual que faz do “três” uma fórmula explicativa central. Nomear o tripé metodológico como trayakrama dialoga com essa tradição de triádicos. iep.utm.eduAmazon


4.3. Krama na pedagogia do yoga moderno: o caso vinyāsa-krama

No âmbito das pedagogias modernas do āsana a expressão vinyāsa-krama (ordem-organizada da vinyāsa) é empregada para descrever progressões pedagógicas (p.ex. a tradição de T. Krishnamacharya e seus discípulos), mostrando que composições com -krama possuem uso vivo e reconhecível em contextos de ensino do yoga. Assim, a fórmula terminológica X-krama já é convencional tanto em registros tradicionais quanto em adaptações modernas. WikipediaAmazon


5. Argumentos conceituais e pedagógicos a favor de Trayakrama para o Método INatha


5.1. Unidade terminológica e coerência interna

Os três eixos do Método INatha que você descreveu empregam a partícula -krama (pūrvakrama, namaskrama, dhyānakrama). Nomear o conjunto por Trayakrama reforça a coesão interna: o sufixo funciona como “marca de família” terminológica. Isso é útil para a clareza comunicativa (em textos, conferências, materiais pedagógicos).


5.2. Nível de abstração apropriado ao discurso acadêmico

Trayakrama permite tratar a tríade tanto como objeto empírico (conjunto de práticas) quanto como objeto teórico (modelo pedagógico, paradigma). Em trabalhos acadêmicos, a palavra denomina uma instância conceitual que pode ser analisada historicamente, filosoficamente e pedagogicamente sem confundir o nome com uma prática específica.


5.3. Ressonância simbólico-hermenêutica

A palavra conjuga “três” (símbolo recorrente em cosmologias e sistemas práticos) e “ordem/progressão” (a pedagogia passo-a-passo). Isso encaixa-se elegantemente na proposta do Método INatha: preparar (Pūrvakrama), alinhar ritualmente (Namaskrama) e interiorizar/transformar (Dhyānakrama).


5.4. Compatibilidade com a tradição e abertura contemporânea

Ao mesmo tempo em que trayakrama dialoga com antecedentes tântricos e com o uso moderno de -krama, mantém abertura para inovações metodológicas (p.ex. ciclo de 17 × 21 meditações, integração semanal/mensal). Isso dá ao nome tanto legitimidade histórica quanto plasticidade prática.


6. Recomendações práticas de redação e uso acadêmico


  1. Grafia: recomendo usar sempre a forma com Devanāgarī, IAST e tradução: Trayakrama (त्रयक्रम, trayakrama) — especialmente na primeira ocorrência em cada texto acadêmico.

  2. Hifenização: para estabelecer clareza morfológica em português, pode usar traya-krama quando quiser enfatizar os elementos do composto (p.ex. título, cabeçalho). Para o fluxo corrido do texto, trayakrama funciona bem.

  3. Subtítulo explicativo: ao apresentar o termo pela primeira vez, acrescente uma frase breve: “trayakrama (त्रयक्रम) — ‘a tríade de progressões/metodologias’ que estrutura o Método INatha (Ekādaśa Pūrvakrama, Ekādaśa Namaskrama, Dhyānakrama).”

  4. Registro translit.: na IAST, preserve o macron/diacríticos: trayakrama (não é obrigatório usar aspas; se optar por transliteração sem diacríticos em materiais populares, mantenha consistência).

  5. Indexação: ao submeter artigos, inclua Trayakrama como palavra-chave, junto a “krama”, “Trika”, “pādha/paddhati”, “pedagogia do yoga”.


7. Conclusão sintética

Trayakrama (त्रयक्रम, trayakrama) é um nome adequado — por razões gramaticais, históricas, hermenêuticas e pedagógicas — para designar o tripé metodológico do Método INatha. O termo conjuga a legitimidade da partícula krama (amplamente atestada no léxico e em sistemas tântricos) com a capacidade polissêmica de traya (a tríade como totalidade), produzindo um conceito técnico, erudito e útil para uso acadêmico e prático.


Bibliografia selecionada (leitura principal e suporte)

A bibliografia abaixo inclui dicionários clássicos, estudos filológicos e obras contemporâneas sobre Krama, Trika, Tantrāloka, pedagogia do vinyāsa e história do haṭha/āsana. Não é exaustiva, mas suficientemente extensa para fundamentar a adoção do termo e aprofundar a pesquisa.


Dicionários e léxicos

Krama / Krama-Tantricism / Trika

  • Rastogi, Navjivan. The Krama Tantricism of Kashmir: Historical and General Sources. Motilal Banarsidass, 1979. Motilal Banarsidass

  • Dyczkowski, Mark S. G. The Doctrine of Vibration: An Analysis of the Doctrines and Practices of Kashmir Shaivism. (esp. discussão sobre Krama / Spanda). Motilal Banarsidass, 1987/1989. ia600204.us.archive.org

  • Muller-Ortega, Paul E. The Triadic Heart of Śiva: Kaula Tantricism of Abhinavagupta in the Non-Dual Shaivism of Kashmir. SUNY Press, 1989. Amazon

  • Abhinavagupta. Tantrāloka (ed. / traduções: Jaideva Singh / Satya Prakash Singh & Swami Maheshvarananda; edições críticas e traduções em múltiplos vols.). (Textos fundamentais que tratam da síntese do sistema tântrico e menções a paddhati/krama). IGNCAInternet Archive


História e pedagogia do yoga moderno

  • Sjoman, Norman E. The Yoga Tradition of the Mysore Palace. Abhinav Publications, 1999. (Contexto Krishnamacharya; história do vinyāsa-krama). Yoga Journal

  • Ramaswami, Srivatsa. The Complete Book of Vinyasa Yoga: An Authoritative Presentation. (obras e compilações sobre Vinyasa Krama clássico). Amazon

  • Singleton, Mark. Yoga Body: The Origins of Modern Posture Practice. Oxford University Press, 2010. (contextualização das transformações modernas do āsana).

  • Mallinson, James & Singleton, Mark. Roots of Yoga. Penguin / Thames & Hudson, 2017. (história crítica das práticas tântricas e do haṭha-yoga).


Sobre Ekādaśa / números rituais

  • Entradas enciclopédicas e sumários sobre Ekādaśī (ekadashi) — (Wisdomlib / Wikipedia / fontes litúrgicas) para a simbologia do número 11 e práticas de jejum/ciclo litúrgico. Biblioteca de SabedoriaWikipedia


Outros recursos úteis

  • Artigos e notas introdutórias sobre Trika e Shaivismo da Caxemira — Stanford Encyclopedia / Internet Encyclopedia of Philosophy — Kashmir Shaivism (Trika) (síntese histórica e conceitual). iep.utm.edu

 

 
 
 

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