Sarasatā Vinyāsakrama: Elemento Água e Svādhiṣṭhāna Chakra.
- INatha

- 23 de ago.
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A estrutura denominada Sarasatā Vinyāsakrama ocupa lugar essencial no conjunto dos Purvakramas dentro do Trayakrama do Método INatha, justamente porque inaugura um deslocamento qualitativo na experiência da corporeidade e da consciência.
Se no Maulika Vinyāsakrama (associado à Terra e ao Mūlādhāra) o praticante encontra a solidez, o enraizamento e a fundação, em Sarasatā Vinyāsakrama a proposta é mergulhar no fluxo, na plasticidade e no caráter ondulatório da existência, espelhados simbolicamente no elemento Água (āp) e no Svādhiṣṭhāna Chakra.
O Elemento Água (Āpah) na Tradição Védica e Tântrica
Na tradição védica, a água (āpah, plural em sânscrito) é invocada como princípio purificador, nutridor e sustentador da vida (cf. Ṛgveda VII.49). A água é substância cósmica, mas também princípio fluido que liga e conduz. No Śatapatha Brāhmaṇa e nos Upaniṣads, ela aparece como matriz de manifestação, símbolo da continuidade entre o imanente e o transcendente. No tantrismo, esse mesmo princípio se expande como metáfora da consciência fluida, do movimento entre polos e da energia vital que circula entre os canais sutis (nāḍīs).
Assim, no Sarasatā Vinyāsakrama, a água não é apenas metáfora, mas referência ontológica: evoca a necessidade de atravessar a rigidez do corpo e da mente para encontrar a partir da mobilidade do corpo o fluxo interno que conduz o praticante à interioridade sutil.
Svādhiṣṭhāna Chakra e a Dinâmica da Fluidez
O Svādhiṣṭhāna Chakra (स्वाधिष्ठान चक्र), localizado na região sacral, é descrito como o centro da vitalidade criativa, da sensualidade e da relação com as águas internas. Segundo o Ṣaṭcakranirūpaṇa, nele reside a deusa Rākinī, e sua simbologia está diretamente associada à lua e às marés internas. Trata-se de um centro ligado ao gozo da experiência, mas também ao reconhecimento da impermanência, já que a água está sempre em movimento.
No contexto do Sarasatā Vinyāsakrama, o trabalho com este chakra é cultivado através de práticas de movimentação nos quais predomina, suavidade, rendição e dissolução das tensões. O corpo é levado a redescobrir-se como campo líquido, de modo que a rigidez não seja reprimida, mas dissolvida na cadência do movimento.
Filosofia e Práxis no Método INatha
Enquanto a Terra de Maulika oferece a solidez inicial, a Água de Sarasatā pede entrega e confiança no fluxo. Este movimento é crucial nos Purvakrama, pois marca o trânsito do estático ao dinâmico, do sólido ao fluido, preparando o caminho para elementos mais sutis.
No plano filosófico, Sarasatā representa a aprendizagem do deixar fluir (pravāha), fundamental para que o yogin não se apegue às estruturas fixas construídas na base, mas aprenda a mover-se com elas. Tal qualidade é indispensável no caminho do yoga, que demanda simultaneamente disciplina e flexibilidade.
No plano prático, os vinyāsas desse krama privilegiam sequências de mobilidade com movimentos circulares, respirações profundas e técnicas de relaxamento consciente. Essas práticas não apenas mobilizam os líquidos internos (sangue, linfa, fluidos articulares), mas também despertam o ritmo respiratório como fluxo das águas da vida.
Síntese Integrativa
O Sarasatā Vinyāsakrama ensina que o corpo não é apenas estrutura sólida, mas também correnteza. Ele cultiva a sensibilidade do praticante à sua própria natureza fluida, expandindo o reconhecimento de que a vida é movimento contínuo e impermanente. Na sequência dos Vinyāsakrama, ele corresponde ao segundo passo do mergulho progressivo: do peso e firmeza da Terra ao balanço, à maleabilidade e à entrega da Água.
Assim, prepara o yogin para os próximos estágios, em que o fogo, o ar e o espaço vão progressivamente refinar ainda mais a autoconsciência.
Referências
Ṛgveda VII.49; X.9.
Śatapatha Brāhmaṇa I.1.2.5.
Taittirīya Upaniṣad II.1–2.
Ṣaṭcakranirūpaṇa (Slokas 9–13).
Eliade, Mircea. Yoga: Imortalidade e Liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Feuerstein, Georg. The Yoga Tradition. Prescott: Hohm Press, 2001.
Padoux, André. Tantric Mantras: Studies on Mantrasastra. London: Routledge, 2011.


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