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Os Vinyāsakramas no Contexto dos Purvakramas do Método INātha (Parte 01): Fundamentos, Expansões e Significados.

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    INatha
  • 23 de ago.
  • 4 min de leitura

Introdução

No seio do Trayakrama do Método INātha, os Purvakramas constituem a etapa fundamental, voltada a organizar a pedagogia do corpo, da atenção, da respiração e da mente em uma progressão que conduz do mais denso ao mais sutil.


Em tal contexto, os Vinyāsakramas (विन्यासक्रम vinyāsa-krama) configuram-se como verdadeiros métodos progressivos, estruturados em séries de vinyāsa (movimento consciente), cujo propósito não é apenas o exercício corporal, mas a integração gradual das dimensões psicofísicas do praticante.


Cada Vinyāsakrama (विन्यासक्रम vinyāsa-krama) expressa, já em seu nome, a qualidade essencial que pretende cultivar. Nesse sentido, não se trata de meras séries ou sequências de movimentos, mas de métodos com identidade pedagógica própria, que refletem princípios fundamentais do yoga clássico e tântrico.


No núcleo de todos os demais encontra-se o Maulika Vinyāsakrama (मौलिक विन्यासक्रम maulika-vinyāsa-krama), considerado a matriz ou raiz (mūla) de onde brotam os demais métodos.


A partir dele, emergem quatro grandes ramificações: Sarasatā Vinyāsakrama (सरसता विन्यासक्रम), Balatā Vinyāsakrama (बलता विन्यासक्रम), Prasaritatā Vinyāsakrama (प्रसरितता विन्यासक्रम), e Sthiratā Vinyāsakrama (स्थिरता विन्यासक्रम).


1. Maulika Vinyāsakrama — A matriz e o fundamento

O termo maulika (मौलिक, de mūla, raiz, fundamento) significa “essencial”, “fundamental”, “originário”. O Maulika Vinyāsakrama constitui o suporte matricial de todos os demais métodos. Seu propósito é enraizar o praticante nos princípios basilares do vinyāsa: coordenação entre movimento e respiração, atenção contínua, transição consciente entre posturas e cultivo de estabilidade mental (sthiti).


Filosoficamente, ele corresponde à função do mūlādhāra cakra (मूलाधार चक्र), o centro de sustentação energética. Assim como o lótus da base contém em si a potência da ascensão da kuṇḍalinī, o Maulika Vinyāsakrama contém em si, em estado germinal, todos os demais Vinyāsakramas.


2. Sarasatā Vinyāsakrama — A fluidez

Do adjetivo saras (सरस्), que significa “fluido, gracioso, encantador”, deriva sārasatā (सरसता), “qualidade de fluidez, suavidade, elegância”.


O Sarasatā Vinyāsakrama enfatiza o movimento contínuo e harmônico, cultivando a suavidade no encadeamento dos gestos, a leveza na respiração e a beleza do ritmo corporal.


Representa o aspecto estético e dinâmico do vinyāsa, onde cada transição se converte em um gesto pleno de sentido, um mudrā em movimento.


No plano simbólico, corresponde ao princípio da água (ap tattva आप तत्त्व), evocando adaptabilidade, doçura e fertilidade.


3. Balatā Vinyāsakrama — A força

De bala (बल), “força, vigor, potência”, deriva balatā (बलता), “qualidade da força”. O Balatā Vinyāsakrama é o método voltado a cultivar energia vital, potência muscular e vigor psíquico.


Em suas séries, predominam movimentos que exigem sustentação, ativação do centro e desenvolvimento da resistência. Mas a noção de bala não é apenas física: trata-se também de fortalecer o ojas (ओजस्), a energia vital sutil descrita nos Upaniṣads e no Haṭha-Yoga-Pradīpikā.


Assim, o método conecta-se simbolicamente ao maṇipūra cakra (मणिपूर चक्र), o centro do fogo interior, fonte de vitalidade e determinação.


4. Prasaritatā Vinyāsakrama — A expansão

Do radical √sṛ (espalhar, estender), o termo prasarita (प्रसरित) significa “expandido, dilatado”. Prasaritatā (प्रसरितता) é, portanto, o estado ou qualidade de expansão.

O Prasaritatā Vinyāsakrama cultiva a experiência do alargamento do espaço interior e exterior.


Em nível físico, manifesta-se em posturas de abertura e extensão; em nível sutil, promove a expansão da respiração e da consciência além dos limites habituais. É o método que desperta a noção de amplitude (vistāra), preparando o praticante para perceber a vastidão do elemento ar esparramado pelo espaço.


Assim, ele reflete a dimensão pedagógica do anāhata cakra (अनाहत चक्र), centro do sopro vital e da expansão ilimitada do coração.


5. Sthiratā Vinyāsakrama — A estabilidade

Sthira* (स्थिर) significa firme, estável, sólido; sthiratā (स्थिरता) designa “estabilidade”, “firmeza”. O Sthiratā Vinyāsakrama é o método que enfatiza a estabilidade e o equilíbrio dos opostos.


No plano corporal, trata-se de cultivar posturas de permanência estável (āsana sthiti). No plano mental, desenvolve a capacidade de manter a atenção contínua sem dispersão, ecoando o célebre aforismo do Yoga Sūtra (II.46): sthira-sukham āsanam (स्थिरसुखमासनम्) — a postura deve ser firme e confortável.


Assim, este método corresponde ao fortalecimento do eixo central do praticante, estabelecendo uma firmeza interior que sustenta as etapas subsequentes.


Considerações Finais

Os cinco Vinyāsakramas — Maulika, Sarasatā, Balatā, Prasaritatā, e Sthiratā  — configuram uma arquitetura pedagógica que vai da raiz à expansão, da fluidez à força, culminando na estabilidade integradora dos opostos. Cada um expressa um aspecto da experiência do corpo-mente, não como técnica isolada, mas como método formativo cuja identidade é inscrita no próprio nome.


Assim, o estudo dos Vinyāsakramas revela a coerência interna do Método INatha como ciência progressiva: cada etapa é necessária, cada qualidade é cultivada, e todas se enraízam no fundamento matricial do Maulika Vinyāsakrama.


Referências Bibliográficas


  • Haṭha-Yoga-Pradīpikā, Svātmārāma. Trad. Brian Dana Akers. YogaVidya.com, 2002.

  • Yoga Sūtra de Patañjali. Edição crítica de James Haughton Woods. Harvard Oriental Series, 1914.

  • Pūrṇānanda. Ṣaṭ-Cakra-Nirūpaṇa. Trad. Arthur Avalon (Sir John Woodroffe). Madras: Ganesh, 1918.

  • Eliade, Mircea. Yoga: Immortality and Freedom. Princeton University Press, 1958.

  • Feuerstein, Georg. The Yoga Tradition. Hohm Press, 2001.

  • Padoux, André. Vac: The Concept of the Word in Selected Hindu Tantras. SUNY Press, 1990.

  • Larson, Gerald J., e Bhattacharya, Ram Shankar (eds.). Encyclopedia of Indian Philosophies, Volume IV: Samkhya, Yoga. Delhi: Motilal Banarsidass, 1987.

 
 
 

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