Os Vinyāsakramas no Contexto dos Purvakramas do Método INatha (Parte 02): Progressão do Denso ao Sutil – Chakras e Bhūtas.
- INatha

- 23 de ago.
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O Trayakrama constitui o núcleo operativo do Método INatha, estruturado em três grandes eixos: Purvakrama, Namaskrama e Dhyanakrama. Dentro dessa arquitetura, os Purvakramas se apresentam como práticas progressivas que integram corpo, energia e consciência, oferecendo uma preparação gradual que vai da dimensão mais densa e tangível da corporeidade até os domínios mais sutis da interiorização e do silêncio.
A lógica dos Purvakramas é a da transição iniciática: do peso ao leve, do movimento à estabilidade, da forma ao vazio, do esforço ao repouso, até a experiência de um silêncio transcendental no qual o Ser se revela.
Esse percurso, é articulado por uma série Vinyāsakramas, que são verdadeiros métodos, baseados em Vinyāsa, para o desenvolvimento de qualidades específicas e universais.
Cada Vinyāsakrama encarna a qualidade de um mahā (grande elemento cósmico) e, ao mesmo tempo, ativa um cakra específico, vinculando a prática psicofísica ao eixo cosmológico e energético da tradição iogue.
Dessa forma, o corpo não é visto apenas como suporte físico, mas como campo ritual onde se encenam e se refinam os princípios universais. Abaixo, exploramos cada um desses cinco Vinyāsakramas, em sua correspondência com os elementos e os centros sutis.
1. Maulika Vinyāsakrama – Terra / Mūlādhāra Chakra
O termo Maulika (मौलिक, raiz, fundamental, essencial) aponta para o caráter de fundamento desse Vinyāsakrama, que serve como raiz de todo o sistema.
Elemento: Pṛthvī (terra)
Chakra: Mūlādhāra (raiz)
Aqui a ênfase recai sobre o enraizamento, a estabilidade estrutural e a base. O corpo é trabalhado em sua densidade, na sustentação física e postural. A prática conduz à experiência de ser suportado pela Terra e, simultaneamente, de encontrar a própria base interior. A pedagogia é a do chão: construir alicerce, fundamento e confiança, dissolvendo o medo do não saber.
No plano filosófico, Maulika remete ao adhāra (suporte) da experiência: sem raiz não há elevação. Assim, o corpo é preparado para se tornar receptáculo das energias mais sutis, ancorado no elemento terra.
2. Sarasatā Vinyāsakrama – Água / Svādhiṣṭhāna Chakra
O termo Sarasatā (सरसता, fluidez, suculência, musicalidade, graça) expressa a qualidade da água em movimento, do fluxo vital que nutre, circula e conecta.
Elemento: Āpas (água)
Chakra: Svādhiṣṭhāna (morada do prazer e da criatividade)
Esse Vinyāsakrama trabalha a mobilidade, a maleabilidade, a flexibilidade e o fluir corporal, cultivando a capacidade de adaptação e de dissolução do que está enrijecido. O corpo é vivenciado como correnteza viva, em que cada movimento se prolonga como um rio.
No nível filosófico, a água representa a continuidade do ser e sua potência de gerar vida e prazer. No plano da prática, a atenção se volta ao movimento como fluxo, ao flow orgânico que integra polaridades e convida à experiência da suavidade e do envolvimento.
3. Balatā Vinyāsakrama – Fogo / Maṇipūra Chakra
O termo Balatā (बलता, força, vigor, potência) traduz o princípio do agni, do fogo transformador.
Elemento: Agni (fogo)
Chakra: Maṇipūra (poder, vitalidade, digestão)
Aqui o foco é a energia dinâmica, a ativação do poder vital, o despertar da força exterior e interior que estabiliza a mente e o corpo.
O Vinyāsakrama trabalha vigor, resistência, firmeza e clareza. O fogo atua como transformador, queimando impurezas e ativando a centelha da vontade (icchā-śakti).
No plano filosófico, o fogo simboliza a transmutação alquímica, o processo pelo qual o praticante refina sua energia bruta em energia consciente. É o momento em que a prática ganha calor, intensidade e luminosidade, ativando o centro de poder interno.
4. Prasāritatā Vinyāsakrama – Ar / Anāhata Chakra
O termo Prasāritatā (प्रसारितता, expansão, abertura, difusão) traz a qualidade do ar em expansão, do sopro vital que preenche e conecta.
Elemento: Vāyu (ar)
Chakra: Anāhata (coração)
Esse Vinyāsakrama enfatiza flexibilidade, expansão, amplitude. O ar se manifesta como leveza, liberdade e movimento sutil. Aqui o corpo é percebido como campo de expansão onde o prāṇa circula, nutrindo todas as direções.
No nível filosófico, o ar é o princípio da comunicação e da relação, associado ao coração que pulsa sem ruído (anāhata).
É na permanência silenciosa que começamos a abrir o campo físico e psicológico para a experiência da amplitude.
5. Sthiratā Vinyāsakrama – Espaço / Viśuddha Chakra
O termo Sthiratā (स्थिरता, estabilidade, firmeza, constância) representa a culminância dos Purvakramas, conduzindo ao espaço interior.
Elemento: Ākāśa (espaço, éter)
Chakra: Viśuddha (purificação, expressão)
Esse Vinyāsakrama cultiva a estabilidade, a firmeza que permite ao corpo e à mente um alinhamento com o centro, com o eixo de silêncio e leveza da realidade. Para além da raiz, da fluidez, da força e da expansão, o que predomina é uma presença silenciosa que repousa no espaço, sustentada pela crescente estabilidade exterior e interior.
No plano filosófico, o espaço é o suporte de todos os elementos, o campo no qual tudo se manifesta e se dissolve.
A prática de Sthiratā conduz à experiência da permanência no essencial, no ākāśa, a matriz silenciosa de todos os elementos e espelho da Consciência que é Paz.
Síntese
Os cinco Vinyāsakramas aqui descritos formam uma escada iniciática:
da Terra de Maulika, onde tudo se ancora,
às Águas de Sarasatā, que fluem,
ao Fogo de Balatā, que transforma,
ao Ar de Prasāritatā, que expande,
até o Espaço de Sthiratā, onde se repousa.
Essa progressão reflete a jornada do praticante no Trayakrama do Método INatha: do denso ao sutil, do movimento ao vazio, até o silêncio transcendental em que o Ser se revela.


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