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O Ritual do Soma (सोम, Soma) Na Tradição Védica e Tântrica: Dias Especiais e Significados.

  • Foto do escritor: INatha
    INatha
  • 27 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 31 de ago.


Introdução

O Soma (सोम, Soma) é uma das figuras centrais do Veda (वेद, veda, “conhecimento”), sendo ao mesmo tempo planta, bebida sagrada e divindade personificada. A ingestão do Soma tem profundas implicações rituais, mitológicas e simbólicas, e está relacionada tanto a momentos fixos do calendário lunar quanto a práticas interiores desenvolvidas no Tantra (तन्त्र, tantra, “tecido, sistema ritual”).


Este artigo examina historicamente os dias especiais associados ao Soma, suas relações com a Lua (Chandra, चन्द्र, candra) e as reinterpretações tântricas que transformaram a bebida em símbolo de energia interior (amṛta, अमृत, “elixir da imortalidade”).


1. O Soma nos Vedas

Nos Soma Yajñas (सोम यज्ञ, soma yajña, “ritos do Soma”), a bebida era preparada e oferecida em ocasiões específicas:


  • Agniṣṭoma (अग्निष्टोम, agniṣṭoma): sacrifício clássico de um dia, base de toda a liturgia do Soma.

  • Jyotiṣṭoma (ज्योतिष्टोम, jyotiṣṭoma) e Atirātra (अतिरात्र, atirātra): rituais que podiam durar a noite inteira, com momentos centrais de ingestão do Soma.


O consumo era feito pelos sacerdotes (ṛtviks, ऋत्विक) e simbolicamente pelos deuses via oferendas. Esses rituais não tinham datas fixas mensais, mas eram vinculados a festivais, iniciações ou grandes yajñas patrocinados por reis.


2. Calendário Lunar e o Soma

O ciclo da Lua (चन्द्र, candra) sempre esteve associado ao Soma. Na tradição védica:


  • Darśa-Pūrṇamāsa Yajña (दर्श-पूर्णमास यज्ञ, “sacrifício da Lua Nova e da Lua Cheia”): dias fixos do calendário lunar em que o Soma era ritualmente associado.

  • Pūrṇimā (पूर्णिमा, Lua Cheia): momento em que Chandra estaria cheio de Soma, considerado o auge do elixir.

  • Amāvāsya (अमावास्या, Lua Nova): momento de esvaziamento do Soma, simbolizando renovação e recomeço.


Assim, mesmo dentro do Veda, alguns dias do mês lunar eram especialmente propícios para rituais do Soma.


3. Reinterpretação Tântrica

No Tantra (तन्त्र, tantra), o Soma passa a ser compreendido como fluido interno (bindu, बिंदु, amṛta, अमृत, rasa, रस), secretado no “ponto lunar” do corpo sutil, associado ao bindu visarga (entre ajña e sahasrāra).


  • O “beber do Soma” se torna prática de candra-sādhana (चन्द्र साधना, prática lunar).

  • Noites de Lua Cheia (Pūrṇimā) são momentos de intensificação desta prática.

  • Durante Śivarātri (शिवरात्रि, “Noite de Śiva”), o Soma é oferecido a Śiva, destacando-se a oferenda sobre a ingestão, mas mantendo a energia do fluido como elemento central.


4. Paralelos e Influências Posteriores

  • Somavāra (सोमवार, somavāra, segunda-feira): literalmente “dia de Soma/Chandra”, ainda considerado auspicioso para jejuns e rituais devocionais a Śiva e a Chandra.

  • Período medieval: o Soma ritual desaparece como bebida física, transformando-se em símbolo de imortalidade (amṛta) e em metáfora de energia interior nos sistemas de yoga e tantra.


5. Síntese

Contexto

Dia/Momento Especial

Natureza do Soma

Veda

Agniṣṭoma, Jyotiṣṭoma, Atirātra; Darśa-Pūrṇimāsa Yajña

Bebida sagrada oferecida a deuses e consumida por sacerdotes

Calendário Lunar

Pūrṇimā (Lua Cheia)

Auge do Soma em Chandra

Tantra

Noites de Lua Cheia; Śivarātri

Soma interno, fluido espiritual, amṛta

Hoje

Somavāra (segunda-feira)

Herança simbólica e devocional


A Lua Cheia (Pūrṇimā, पूर्णिमा) era o dia mais especial para o ritual do Soma tanto no Veda quanto no Tantra, mas existiam outros yajñas de Soma. No Tantra, o foco se desloca para a experiência interna do amṛta, ainda associada às noites de Lua Cheia e a Śivarātri.


Bibliografia


  • Macdonell, Arthur A. Vedic Mythology. Oxford: Clarendon Press, 1897.

  • Gonda, Jan. A History of Indian Literature, Vol. I: Vedic Literature. Wiesbaden: Harrassowitz, 1975.

  • Flood, Gavin. The Tantric Body: The Secret Tradition of Hindu Religion. London: I.B. Tauris, 2006.

  • Kinsley, David. Hindu Goddesses: Vision of the Divine Feminine in the Hindu Religious Traditions. Berkeley: University of California Press, 1988.

  • Witzel, Michael. Vedas and Upanishads. Cambridge: Harvard University Press, 1997.

 
 
 

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