As Três Camadas da Consciência e as Três Camadas dos Purvakramas (Parte 02): O Encadeamento Ontológico: Movimento, Som, Silêncio e Ser.
- INatha

- 22 de ago.
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As tradições védicas e tântricas concebem a realidade como estratificada em camadas progressivas de manifestação. Cada camada não anula a anterior, mas a integra como expressão mais externa de um núcleo mais sutil. Assim, podemos compreender a sequência:
Movimento (गति, gati) — expressão mais externa do som.
Som (शब्द, śabda) — expressão mais externa do silêncio.
Silêncio ordinário (मौन, mauna) — expressão mais externa do Silêncio transcendental.
Silêncio transcendental (महामौन, mahāmauna) — expressão mais externa do Ser (सत्, sat).
1. Movimento como expressão do som
O movimento é a manifestação mais densa do som primordial (nāda). O Śiva Saṁhitā declara:
नादोऽस्मिन्संसारे मूलंnādo ’smin saṁsāre mūlam
“O nāda é a raiz deste universo.”
O que percebemos como movimento — pulsações fisiológicas, vibrações materiais, ritmos cósmicos — não é senão a tradução do som primordial em dinâmica concreta.
2. Som como expressão do silêncio ordinário
O som (śabda) é, por sua vez, apenas a face audível de um fundo mais profundo: o silêncio. Como nos ensina a Māṇḍūkya Upaniṣad, o Oṁ (ॐ) é composto por três fonemas (A-U-M) e um quarto estado, o silêncio que os sustenta:
O silêncio após o mantra é mais essencial do que o som do próprio mantra. O som é apenas vestígio do silêncio pleno.
3. Silêncio ordinário como expressão do Silêncio transcendental
O silêncio ordinário (mauna) — o recolhimento da mente e dos sentidos — é ainda manifestação externa de um Silêncio maior (mahāmauna), transcendental, que não é ausência de palavras ou sons, mas plenitude incondicionada.
O Vijñāna Bhairava Tantra sugere que quando a mente repousa entre dois pensamentos ou entre dois sons, aí se revela o espaço do absoluto. Esse interstício é a chave para o Silêncio inominável.
4. O Silêncio como expressão do Ser
O Silêncio transcendental não é fim em si mesmo, mas expressão imediata do Ser (सत्, sat) — realidade última, não-nascida (ajāta), ilimitada.
O Silêncio, em sua acepção suprema, é apenas o reflexo direto do Ser absoluto.
Encadeamento Sintético
Movimento → expressão do Som.
Som → expressão do silêncio ordinário.
Silêncio ordinário → expressão do Silêncio transcendental.
Silêncio transcendental → expressão do Ser.
Assim, o movimento é a superfície; o Ser, o abismo. Entre ambos, som e silêncio operam como pontes.


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