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As Três Camadas da Consciência e as Três Camadas dos Purvakramas (Parte 03): A Progressão dos Pūrvakramas: Dos Opostos Externos ao Ser.

  • Foto do escritor: INatha
    INatha
  • 22 de ago.
  • 2 min de leitura

A pedagogia do Método INatha pode ser organizada em três grupos de pūrvakramas (पूर्वक्रमाः — “passos anteriores, fundamentos”), que articulam pares de opostos como vias didáticas para a consciência atravessar a superfície densa da manifestação até o mistério transcendente.


Cada grupo é um dyad — um par aparente de contrários — que se mostra não como exclusão, mas como tensão criativa e pedagógica.


Grupo 1: Movimento e Pausa

(gati e virāma — गति विराम)


  • Movimento (गति, gati) — expressão externa e densa do som.

  • Pausa (विराम, virāma) — expressão externa e densa do silêncio.


Aqui a consciência trabalha no campo do conhecido (jñāta-kṣetra), através do corpo, da respiração, do gesto. O movimento (ação, pulsação, vibração) é complementado pela pausa (imobilidade, repouso, cessação).


O Haṭha Yoga Pradīpikā (II.2) já descreve o jogo de recaka (expiração) e pūraka (inspiração) como pedagogia do ritmo, em que o movimento se revela inseparável da pausa.


Este grupo corresponde ao eixo mūlādhāra-svādhiṣṭhāna–maṇipūra–anāhata, onde corpo e energia vital são didaticamente trabalhados.


Grupo 2: Som e Silêncio

(śabda e mauna — शब्द मौन)


  • Som (शब्द, śabda) — expressão mais interna do movimento.

  • Silêncio (मौन, mauna) — expressão mais interna da pausa, e mais externa do Silêncio transcendental.


Neste nível, o som e o silêncio deixam de ser apenas fenômenos acústicos e tornam-se princípios ontológicos. O Oṁ (ॐ) das Upaniṣads é o exemplo supremo: três fonemas e o silêncio que os transcende:


माण्डूक्य उपनिषद् ७नान्तःप्रज्ञं न बहिःप्रज्ञं ... न प्रज्ञानघनं न प्रज्ञं नाप्रज्ञम्।nāntaḥprajñaṁ na bahiḥprajñaṁ … na prajñānaghanaṁ na prajñaṁ nāprajñam

“Não é consciência interna, nem externa… não é denso de consciência, não é consciência, nem não-consciência.”


Aqui se inaugura o campo do intuído (anumita-kṣetra): a consciência percebe que por trás do fenômeno vibra uma ordem invisível.


O som é ponte; o silêncio é portal.


Este grupo corresponde ao eixo anāhata–viśuddha, onde o som interior (anāhata nāda) e o silêncio meditativo se entrelaçam.


Grupo 3: Silêncio Transcendental e Ser

(mahāmauna e sat — महामौन सत्)


  • Silêncio Transcendental (महामौन, mahāmauna) — expressão muito mais interna do silêncio fenomênico; dissolução da dualidade som/pausa.

  • Ser (सत्, sat) — expressão mais interna ainda, fundamento último, mais externo apenas em relação ao transcendente inominável (nirguṇa brahman, निर्‍गुण ब्रह्मन्).


Este é o campo do desconhecido (ajñāta-kṣetra), onde até o silêncio como experiência cede à vacuidade plena (śūnyatā). Aqui a consciência repousa em pura abertura.


A Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad (II.3.6) define este estágio pela negação:


नेति नेतिneti neti

“Não isto, não aquilo.”


E a Taittirīya Upaniṣad (II.1) descreve o Ser:


सत्यं ज्ञानमनन्तं ब्रह्मsatyaṁ jñānam anantaṁ brahma

“Brahman é verdade, consciência e infinito.”


Este grupo corresponde ao eixo ājñā–sahasrāra-unmanī, culminando no mergulho no Ser não-nascido (ajāta, अजत).


Síntese Pedagógica


  • Grupo 1: Movimento–Pausa → base corporal, energética, emocional e mental → expressão externa do som e silêncio.


  • Grupo 2: Som–Silêncio → plano intuitivo e vibracional → ponte entre fenômeno e transcendência.


  • Grupo 3: Silêncio Transcendental–Ser → plano do não-nascido → expressão mais interna de todos os opostos.


Assim, a pedagogia dos Pūrvakramas oferece um mapa iniciático: do movimento à pausa, do som ao silêncio ordinário, do silêncio ordinário ao Silêncio transcendental, do Silêncio transcendental ao Ser.

 
 
 

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