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A Abordagem INatha: Estrutura, Fundamentos e Operacionalidade.

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    INatha
  • 21 de ago.
  • 4 min de leitura

Introdução

A Abordagem INatha se apresenta como um modelo pedagógico e iniciático do yoga contemporâneo. Seu núcleo é o Método INatha, concebido como um Trija Paddhati (त्रिज पद्धति) — uma estrutura tripartite que articula três grandes matrizes: o Rāja Yoga de Patañjali, o Haṭha Yoga da Natha Sampradāya e o Yoga Postural Moderno. Essa articulação gera um campo trino no qual a acessibilidade global do yoga moderno se conecta à densidade iniciática da tradição natha, sustentada pela filosofia contemplativa de Patañjali.


No interior desse arcabouço, o funcionamento do método se dá por meio de um Trayakrama (त्रयक्रम) — uma tríplice dinâmica: sequências preparatórias (pūrvakramas), rituais (namaskramas) e contemplativas (dhyānakramas). Essa distinção entre a arquitetura fundante (Trija Paddhati) e a operacionalidade prática (Trayakrama) é essencial para compreender a originalidade da Abordagem INatha.


1. O Yoga Postural Moderno como Base Preparatória

O yoga postural moderno, analisado por autores como Mark Singleton (2010) e Elizabeth De Michelis (2004), constitui a face mais difundida do yoga no século XXI. Ele resulta de um processo histórico de hibridização entre práticas físicas indianas, ginásticas ocidentais e pedagogias modernas, especialmente a partir da primeira metade do século XX.


Na Abordagem INatha, o yoga postural moderno é assumido como campo de preparação: fornece aos praticantes contemporâneos um repertório corporal e respiratório essencial, mas deve ser reinterpretado para não se reduzir a uma prática de bem-estar. Assim, ele funciona como porta de entrada e base somática para a via INatha.


2. O Trija Paddhati: Estrutura Fundante do Método INatha

O Método INatha é estruturado como um Trija Paddhati, ou seja, uma metodologia de três pilares:


  • Rāja Yoga de Patañjali: fornece a base filosófica e contemplativa, ancorada no aṣṭāṅga-yoga (oito membros). Conforme analisado por Feuerstein (1996) e Eliade (1958), os Yoga Sūtras constituem o horizonte clássico da disciplina, orientando a prática para a liberação (kaivalya).


  • Haṭha Yoga da Natha Sampradāya: estudado por James Mallinson (2017), é compreendido como o corpo iniciático de práticas energéticas, respiratórias e meditativas, vinculado à tradição dos Nāthas. Representa o ponto culminante da via INatha.


  • Yoga Postural Moderno: funciona como espaço preparatório, aproveitado de modo crítico e pedagógico, de acordo com a leitura contemporânea da Abordagem INatha.


Esse tripé (Trija Paddhati) garante ao Método INatha uma identidade própria, capaz de dialogar com a modernidade sem romper com a tradição.


3. O Trayakrama: Núcleo Operacional do Método INatha

O funcionamento interno do Método INatha se organiza segundo o Trayakrama (त्रयक्रम), ou seja, uma tríplice estrutura operacional que articula três eixos fundamentais: pūrvakramas, namaskramas e dhyānakramas. Cada eixo corresponde a uma dimensão pedagógica e iniciática distinta, que, ao mesmo tempo, prepara, alinha e contempla.


  • Pūrvakramas (पूर्वक्रम)eixo preparatório: consistem em práticas de disciplina corporal, respiratória e energética que têm por objetivo preparar o praticante para o Haṭha Yoga da Natha Sampradāya. Incluem sequências de fortalecimento e purificação do corpo e da mente, além de exercícios de integração com a respiração e a atenção. São o alicerce que garante maturidade psicofísica antes da entrada no haṭhayoga natha.


  • Namaskramas (नमस्क्रम)eixo ritual: configuram o núcleo ritual do método, alinhando o praticante com a ordem cósmica, o ṛta (ऋत). Realizam-se por meio de rituais corporais e temporais, como o Sūrya Namaskār (saudação ao sol), o Candra Namaskār (saudação à lua), os ciclos de ekādaśī (ritos quinzenares ligados à lua) e a observância mensal do Śivarātri (a noite de Śiva). Esses namaskramas não são apenas movimentos ou datas, mas ritualizam a prática dentro do fluxo cósmico, criando ressonância entre o microcosmo humano e o macrocosmo universal.


  • Dhyānakramas (ध्यानक्रम)eixo contemplativo: formam o coração meditativo do método, onde se consolidam as práticas de interiorização. São sequências de meditação estruturada que conduzem o praticante à estabilização da mente, ao silêncio interior e à experiência do ser. O eixo contemplativo do Trayakrama se enraíza no Rāja Yoga de Patañjali, pois nele convergem dhāraṇā, dhyāna e samādhi, orientando a prática para o horizonte do kaivalya (liberação).


Assim, o Trayakrama do Método INatha garante uma dinâmica completa:


  1. preparar (pūrvakrama),

  2. ritualizar e alinhar com o cosmos (namaskrama),

  3. contemplar e integrar (dhyānakrama).


Essa tríplice estrutura operacional confere ao método sua força pedagógica e iniciática, pois não se limita a exercícios isolados, mas organiza a experiência em progressão integral.


4. O Haṭha Yoga da Natha Sampradāya: Raiz Iniciática

A culminância da via INatha está no Haṭha Yoga da Natha Sampradāya, tradição viva que preserva um corpo de práticas de transformação psicofísica e espiritual. Diferente do yoga postural moderno, que se concentra em āsanas e pedagogias físicas, o haṭhayoga natha envolve bandhas, mudrās, prāṇāyāmas, kuṇḍalinī-yoga e técnicas meditativas. Mallinson (2017) e Bühnemann (2007) destacam que esse yoga se inscreve em uma tradição esotérica e iniciática, cuja transmissão depende de mestre e linhagem (guru-paramparā). É precisamente a esse horizonte que a Abordagem INatha conduz o praticante.


Conclusão

A Abordagem INatha estrutura-se como uma via pedagógica e iniciática tripartida:


  1. Yoga Postural Moderno → base de preparação,

  2. Método INatha (Trija Paddhati + Trayakrama) → núcleo estruturado e operacional,

  3. Haṭha Yoga da Natha Sampradāya → culminância iniciática, sustentada pelo Rāja Yoga de Patañjali.


Dessa forma, a Abordagem INatha oferece uma proposta singular de transição: reconhece o campo global do yoga contemporâneo, reorganiza-o metodologicamente em ambiente online e reconduz o praticante ao haṭhayoga tradicional, sem perder o eixo clássico do rājayoga.


Bibliografia


  • Bühnemann, Gudrun. Eighty-four Āsanas in Yoga: A Survey of Traditions. New Delhi: D.K. Printworld, 2007.

  • De Michelis, Elizabeth. A History of Modern Yoga: Patañjali and Western Esotericism. London: Continuum, 2004.

  • Eliade, Mircea. Yoga: Immortality and Freedom. Princeton: Princeton University Press, 1958.

  • Feuerstein, Georg. The Yoga Tradition: Its History, Literature, Philosophy and Practice. Prescott: Hohm Press, 1996.

  • Mallinson, James. The Khecarīvidyā of Ādinātha: A Critical Edition and Annotated Translation. Routledge, 2007.

  • Mallinson, James, & Singleton, Mark. Roots of Yoga. Penguin Classics, 2017.

  • Singleton, Mark. Yoga Body: The Origins of Modern Posture Practice. Oxford: Oxford University Press, 2010.

 
 
 

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