(10) Ekādaśī (एकादशी): Purificação e Integração Ritual no Método INatha.

1. Introdução

O termo Ekādaśī (एकादशी) significa literalmente “o décimo primeiro” (de eka = um, daśa = dez) e designa o décimo primeiro tithi de cada quinzena lunar, tanto da fase clara (Shukla Paksha) quanto da fase escura (Krishna Paksha). No Sanatana Dharma, Ekādaśī é considerado um dia sagrado de purificação física, mental e espiritual, relacionado à disciplina (tapas), ao jejum (upavāsa) e à prática ritual, constituindo um momento de harmonização com ṛta, a ordem cósmica.

Dentro do Método INatha, o Ekādaśī se transforma no Eixo de Purificação do Ekādaśa Namaskrama, conectando práticas lunares e solares à purificação profunda, criando uma base para a dissolução e integração no Śivarātri mensal.

2. Ekādaśī na Tradição Védica

2.1 Origem e Referências Textuais

O Ekādaśī é mencionado nos Purāṇas e nos textos védicos, embora de forma mais explícita no Padma Purāṇa (पद्मपुराण, Padma Purāṇa) e no Bhāgavata Purāṇa (भागवतम्, Bhāgavatam). Os textos descrevem Ekādaśī como um dia dedicado a Viṣṇu (विष्णु, Viṣṇu), o preservador do cosmos, em que a purificação do corpo e da mente fortalece a devoção (bhakti) e o alinhamento com a ordem cósmica.

• O Bhāgavata Purāṇa (Canto 11, Cap. 16) recomenda jejuar ou praticar austeridades no décimo primeiro tithi, destacando os benefícios espirituais e kármicos da disciplina.

• Textos védicos menores também vinculam Ekādaśī à manutenção do ritmo lunar e cósmico, conectando a prática ao ṛta e à saúde física e psíquica.

  
  

2.2 Função Filosófica

Na perspectiva védica, Ekādaśī é um instrumento de shuddhi (purificação) e dhyāna (meditação), funcionando como um catalisador da disciplina interior:

• Purificação do corpo e do sistema digestivo pelo jejum.

• Purificação da mente pelo controle das paixões, emoções e hábitos (vrata).

• Preparação para a integração espiritual durante práticas mais profundas de meditação e devoção.

  
  

3. Ekādaśī na Tradição Tântrica

3.1 Ekādaśī e o Tantra

No tantra, Ekādaśī assume uma dimensão mais complexa, incorporando a ciência sutil dos nāḍīs, chakras e prāṇa:

• O jejum e os rituais não são apenas morais ou devocionais, mas também técnicas de manipulação de energia sutil, alinhando os canais energéticos e promovendo a circulação equilibrada de prāṇa.

• O Ekādaśī é associado à disciplina de Shuddhi, que prepara o corpo e a mente para a absorção em laya, ou dissolução interior, essencial para práticas avançadas de yoga tântrico.

  
  

4. Ekādaśī no Ekādaśa Namaskrama do Método INatha

No Método INatha, o Ekādaśī é incorporado como elemento de purificação do Ekādaśa Namaskrama, conectando a prática semanal do Sol (Sūrya Namaskār) e da Lua (Chandra Namaskār) à purificação progressiva e à integração espiritual.

4.1 Ekādaśī Shukla Paksha

• Realizado na quinzena clara, após a Lua Nova crescente.

• Objetivo: purificação inicial do corpo, assimilação de práticas físicas e respiratórias, preparação da mente para introspecção profunda.

• Técnicas: jejum parcial ou total, pranayama suave, dhyāna e integração das saudações lunares e solares.

  
  

4.2 Ekādaśī Krishna Paksha

• Realizado na quinzena escura, após a Lua Cheia.

• Objetivo: consolidação das práticas de shuddhi, disciplina ética, controle da mente e energia, integração de hábitos saudáveis adquiridos ao longo do mês.

• Função: preparar o praticante para o Śivarātri mensal, momento de dissolução e entrega à consciência suprema.

  
  

4.3 Eixo Ritual

Dentro do Ekādaśa Namaskrama, os dois Ekādaśī funcionam como pilares de shuddhi que sustentam o eixo ritual do método:

• Integram os ciclos de Saudações à Lua e ao Sol.

• Harmonizam a disciplina física, energética e mental.

• Criam o suporte necessário para a experiência de laya e absorção meditativa no Śivarātri.

  
  

5. Significado Astronômico e Rítmico

Ekādaśī, seguindo o tithi lunar, permite alinhar a prática com os ciclos naturais:

• Shukla Paksha: crescimento da luz, simbolizando assimilação e expansão interior.

• Krishna Paksha: diminuição da luz, simbolizando introspecção e entrega.

• O ritmo quinzenal cria continuidade pedagógica e energética, sincronizando corpo, mente e prāṇa com os movimentos celestes, potencializando a eficácia da disciplina e da meditação.

  
  

6. Conclusão

O Ekādaśī é um componente central da tradição védica e tântrica, associado à purificação, disciplina e integração energética. Dentro do Método INatha, ele se torna o eixo de purificação do Ekādaśa Namaskrama, conectando:

• As práticas lunares (Chandra Namaskār), voltadas à introspecção e assimilação.

• As práticas solares (Sūrya Namaskār), voltadas à energia vital e à disciplina ativa.

• O Śivarātri mensal, culminando na dissolução do ego e integração com ṛta.

  
  

Dessa forma, Ekādaśī não é apenas um dia de jejum, mas um ponto de convergência entre filosofia, astronomia, ritual e disciplina tântrica, articulando o ritmo do corpo, da mente e da consciência com a ordem cósmica e a prática integral de Shiva no Método INatha.

Bibliografia Selecionada

1. Padma Purāṇa (पद्मपुराण), Canto 6 e 16, Vishnu Purana Press, 1998.

2. Bhāgavata Purāṇa (भागवतम्), Canto 11, Cap. 16, Motilal Banarsidass, 2000.

3. Gavin Flood, The Tantric Body: The Secret Tradition of Hindu Religion, London: I.B. Tauris, 2006.

4. David Gordon White, Kiss of the Yogini: “Tantric Sex” in its South Asian Contexts, Chicago University Press, 2003.

5. Subramuniya Swami, Hindu Culture and the Ekadashi Observances, Madras: Sri Ramakrishna Mission, 1985.

6. Kularnava Tantra (कुलर्णव तंत्र), Translation: Satyananda Saraswati, Yoga Publications Trust, 2007.

7. Rudra Yamala Tantra (रुद्र यमल तंत्र), Original Sanskrit Edition, Varanasi: Sampurnananda Sanskrit University, 1995.