O Mantra Oṁ Ādināthāya Namaḥ: Núcleo Vibracional e Devocional do Método INatha.
- INatha

- 25 de ago.
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1. Introdução
O mantra Oṁ Ādināthāya Namaḥ constitui o núcleo sonoro e devocional do Método INatha.
Ele sintetiza conceitos fundamentais do hinduísmo, integrando linguística sânscrita, cosmologia tântrica, teoria do mantra e tradição da linhagem do Yoga.
Este ensaio busca consolidar sua compreensão em termos acadêmicos, filosóficos e práticos.
2. Estrutura lingüística e métrica
Transliteração IAST: Oṁ Ādināthāya Namaḥ (ओं आदिनाथाय नमः).
Separação silábica: Oṁ | Ā-di-nā-thā-ya | Na-maḥ.
Contagem silábica: 8 sílabas métricas (1 Oṁ + 6 A + 1 visarga final).
Distribuição guru-laghu:
Oṁ (—), Ā (—), di (˘), nā (—), thā (—), ya (˘), na (˘), maḥ (—).
Esquema: — — ˘ — — ˘ ˘ —
A métrica evidencia a simetria sonora do mantra, permitindo recitação rítmica e meditação prolongada, compatível com padrões clássicos de pāda devocional.
3. O valor fonético e mantrico
3.1 Oṁ – Invocação do Absoluto
O Oṁ representa a vibração primordial (para-bīja), símbolo do não-nascido (ajā), do absoluto imanente e transcendente.
Funciona como centro sonoro, núcleo estável da geometria vibracional do mantra.
3.2 Os seis A – Expansão e hexalfa
Cada A atua como emanção do Alfa primordial, projetando-se nas seis direções do espaço (leste, oeste, norte, sul, zênite, nadir).
Configura um hexalfa sonoro, correspondente à estrela de seis pontas, símbolo de união de opostos: espírito e matéria, céu e terra, macrocosmo e microcosmo.
Na prática, os A podem ser prolongados (ālāpa) para intensificar a irradiação energética.
3.3 Visarga final – Retorno e dissolução
O ḥ (visarga) ao final de Namaḥ indica a dissolução (layā), retorno da consciência individual ao absoluto.
Representa a expiração final, completando o ciclo de invocação, expansão e recolhimento.
4. Dimensão filosófica
4.1 Shiva e Ādinātha
Na tradição Nātha, Śiva é absoluto, transcendente e imanente.
Ādinātha é Śiva no papel de Guru primordial, o primeiro yogi que:
ensina o Yoga;
inicia discípulos (dikṣā);
cria a linhagem (paramparā);
concede graça (śaktipāta);
protege o discípulo na jornada de liberação.
4.2 Hexalfa e cosmologia
A expansão dos seis A simboliza a manifestação do princípio divino em todas as direções, organizando o cosmos.
A recitação torna-se um microcosmo sonoro, onde o praticante participa do processo de criação, sustentação e dissolução da realidade.
4.3 O ciclo mantrico
Oṁ → invocação do Absoluto.
6 A → expansão cósmica, irradiação do Guru.
ḥ → retorno da consciência ao absoluto.
Este ciclo representa a dinâmica do Yoga.
5. Tradição e força invocatória
O nome Ādinātha é tradicional como fonte da linhagem do Hatha Yoga, mestre primordial e guia espiritual.
Segundo a tradição, o nome é inseparável da energia que representa (nāma brahma).
A entoação confere:
conexão com a linhagem (paramparā);
ativação da energia vital (kundalinī);
transmissão da graça (śaktipāta);
purificação e proteção do discípulo.
6. Aplicações práticas no INatha
Recitação japa: repetição meditativa do mantra com atenção à vibração e à expansão do hexalfa.
Meditação contemplativa:
1. Meditação mais simples: Visualização da estrela de seis pontas, a estrela do yogi.
2. Meditação mais elaborada:
Ritual de iniciação: o mantra serve para alinhar o discípulo à linhagem invisível, à energia do Guru interior e ao fluxo do Yoga.
Bhāvana do Mantra: Visualização Energética
Definição de Bhāvana
Bhāvana (भावना) significa mentalização ou contemplação interna.
É uma prática meditativa que transforma o som do mantra em experiência direta da energia e consciência.
Visualização do Oṁ
Localizado no centro do peito (Anāhata chakra), representando o bindu e o absoluto.
Função: âncora da consciência e ponto de origem da expansão energética.
Expansão Horizontal – os quatro Ā de Ādināthāya
Ordem propiciatória das direções: Frente (Leste) → Direita (Sul) → Trás (Oeste) → Esquerda (Norte).
Cada Ā representa:
Frente / Leste: despertar, luz, início da consciência.
Direita / Sul: força ativa, disciplina e sustentação da energia.
Trás / Oeste: integração, maturação e recolhimento.
Esquerda / Norte: nutrição, receptividade e equilíbrio.
Pausa breve após Adināthāya: relaxamento respiratório e absorção do silêncio do Oṁ.
Fluxo Vertical – os Ā de Namaḥ
Primeiro A: entrada do prāṇa no chakra básico (Mūlādhāra), enraizamento e ativação da Kundalinī.
Segundo A: subida da Kundalinī pelo Sushumnā até Sahasrāra, elevação da consciência.
H final (visarga): dissolução da consciência individual no UnMani chakra, experiência de não-mente.
Dinâmica Respiratória
Oṁ → último A de Ādināthāya: mesmo fôlego, integrando Oṁ à palavra.
Pausa relaxada: absorção do silêncio antes de Namaḥ.
Na-maḥ: segundo fôlego, integrando os dois Ā verticais e H final.
Silêncio final: assimilação da energia antes de iniciar o próximo ciclo.
7. Conclusão
O mantra Oṁ Ādināthāya Namaḥ sintetiza:
a invocação do absoluto (Oṁ);
a expansão da vibração cósmica nas seis direções (6 A);
o retorno da consciência individual ao Todo (ḥ).
Ele é ao mesmo tempo linguagem sagrada, instrumento de transformação e conexão com a linhagem viva do Yoga. A força de Ādinātha é reconhecida na tradição do Hatha Yoga, integrando filosofia, prática e cosmologia em um único ciclo mantrico.
Referências sugeridas
White, David Gordon. The Alchemical Body: Siddha Traditions in Medieval India. University of Chicago Press, 1996.
Brooks, Douglas Renfrew. The Secret of the Three Cities: An Introduction to Hindu Śakta Tantrism. University of Chicago Press, 1990.
Mallinson, James; Singleton, Mark. Roots of Yoga. Penguin, 2017.
Sanderson, Alexis. “Nāth Yogis, Siddhas, and the Transmission of Yoga.” In Yoga in Practice, edited by David Gordon White, Princeton University Press, 2011.
Feuerstein, Georg. The Yoga Tradition: Its History, Literature, Philosophy and Practice. Hohm Press, 1996.


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